domingo, 27 de abril de 2014

Lar misterioso lar...

se meu corpo fosse uma casa, ela seria cheia de corredores e portas fantasmagóricas que se fechariam sozinhas rangendo as dobradiças só para assustar.
Se meu corpo fosse uma casa, o assoalho seria branco e preto e afundaria se acaso alguém pisasse no lugar errado...
Se meu corpo fosse uma casa, as janelas seriam tortas imitando o expressionismo alemão e teriam dentes de crocodilo para triturar e cuspir tudo que não valesse a pena. Se meu corpo fosse uma casa, suas paredes seriam transparentes, mas, tão impenetráveis quanto o mais duro e resiliente metal. Se meu corpo fosse uma casa, não teria móveis, portanto, cada cômodo seria semelhante e ao mesmo tempo distinto, confundindo labirinticamente qualquer olhar. 
Se meu corpo fosse uma casa, ele teria um quintal cheio de Trombetas de anjos rosados, Flores de seda,  as magentas Cristas-de-galo, as rubras Lágrimas de Cristo,  muitos Bastões - do - Imperador (as preferidas de Burle Marx), um lado tomado por Gloxínias alaranjadas e Flores-morcego penduradas em árvores frutíferas. Um jardim feito para se perder...
Se meu corpo fosse uma casa, ele não teria um tapete escrito bem-vindo, porque torno-me a cada dia mulher desconfiada e segura daquilo que quero e não quero.
As portas não se abririam tão fácil, nem tão pouco aos pontapés. Nem chaves, nem palavras mágicas, nem poemas de amor, nem bajulações. 
As portas saberiam automaticamente para quem deveriam abrir-se.