segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

abertura anterior ao tubo digestivo dos animais e onde inicia-se o processo da digestão no homem. Geralmente localiza-se na parte frontal da cabeça do animal.

ele abriu a janela e uma gota gorda caiu certeira no vão que separa meus seios. O gelado desceu arrepiando e caiu redondo no umbigo achatado. Mas,  eu queria mesmo era a boca dele fazendo o exato percurso... 

sábado, 16 de novembro de 2013

...

entrei no bar com o intuito de fumar um café crème ( eu não fumo) e tomar uma dose de black label. Achei o lugar honesto e discreto. Tocava o que é de clichê em bar de tios/tias. Jazz. Porque depois de uma certa idade, se nada mais der certo, o melhor é tocar jazz. Pelo menos não é bossa nova. 
A não ser por Joe Pesci, eu gosto bastante de jazz.
Estava com Saia nova e curta. Preta. Porque preto salva. Camiseta velha. Preta. Meia calça escura e botas de guerra. Parecia bonita. Arrematei com um batom coral pra quebrar o darkside. Caprichei no perfume proteção-macumba. 

Não queria ser vista. Quase nunca quero. Mas, se fosse, ao menos estaria ok.
Entrei sem olhar para os lados. Fixei nas estantes da parede tentando desvendar o preço das coisas. 
Sentei no banco alto ao lado do balcão. Logo fui atendida por um garçom sem idade definida. Cara inchada em decorrência da vida desregrada que a profissão exige. Educação sem exageros. Meu copo veio cheio de gelo e eu disse " Não, meu chapa. Eu quero cowboy". Porque eu adoro dizer que "quero cowboy", mesmo quando não quero cowboy. Daí ele obviamente me olhou com desdém e foi jogando os cubos na pia. A garrafa brilhava e o rótulo acolhia meus desejos de afogamento.
Ele despejou com parcimônia o líqüido precioso e só "chorou" porque eu dei uma fuzilada do tipo" se você não "chorar",  não tem 10% ". 
A vida é boa com uma dose e apenas UM cigarro. Até porque se eu fumar 2, minha bronquite alérgica me fulmina sem piedade. Então, perguntei se podia fumar e o cara fez que sim com o polegar  ao mesmo tempo em que limpava o tampo do balcão. 
Eu dei um trago desesperado e acalmei os brônquios com um pouco de morte.
Quando percebi que tinha sentado próximo um boy que parecia adulto  (coisa rara hj em dia. Se não usa boné de adolescente, usa touca e camiseta flúor. Ou bermuda com all star e tatuagens desbotadas com motivos japoneses).
Ele me olhou de lado como quem procurasse outra pessoa. (Ainda existe gente que acha que uma mulher não pode sentar sozinha em lugar nenhum. )
Eu me voltei para o fundo do copo na esperança de encontrar a minúscula chance de redenção. Foi quando ele disse "concentrada, hein?!"  e eu respondi com um sorriso tímido de quem não tem muito o que fazer com uma pergunta retórica. 
Eu nunca entendo porque alguém, que, supostamente quer contato, faz perguntas retóricas.
Ele prosseguiu com um sorriso leve e me disse: "Whisky é pra quem pode" no que eu respondi: "Whisky é uma questão de dignidade". Ele riu alto e pediu pra eu explicar. Daí eu disse: acho sinceramente que depois de uma certa idade, se você não puder pagar um whisky pra si mesmo, tem alguma coisa errada, sabe? É uma questão de dignidade. Mas, é um discurso burguês filho da pauta, também. E cínico. Não me orgulho. Em próximas ocasiões posso sonhar com caninha de 1,99  e isso passar a ser o meu auge. Ou ao menos ter um copo de água limpa pra beber. A vida dá tantas voltas..." . Ele respondeu: " você é bonita"  e eu voltei a ficar tímida. Daí ele soltou: " posso te pagar um whisky?!" e eu respondi: "pode". Terminei o último gole do meu copo e aceitei de bom grado a próxima dose. 
Black Label tem um sabor solene. É uma bebida que me diz que a vida é dura, cara, mas, pode ser boa. Talvez...Eu tomei saboreando. Vai saber quando tomarei outro.
Falamos sobre como o excesso de trabalho transforma as pessoas em zumbis. Em como é bom poder jantar chocolate quando se vive só. 
Ele me perguntou se eu tinha um vício. E eu constrangida respondi :"chá de camomila antes de dormir". Ele sorriu e disse que o dele era café.  Eu disse "café não é vício, é lei!". Brindamos ao café. E eu não sei se era a bebida fazendo efeito, mas, percebi que ele era bem charmoso. Tinha um sorriso de lado que não mostrava os dentes e franzia a bochecha quando falava. Parecia ter uns 42. Ele me contou um segredo e pediu que eu contasse um. Eu respondi que eu era feliz. Não de um jeito efusivo, desses que quer fotografar tudo pra se lembrar. Mas, de um jeito reservado.  Ele disse que isso não era segredo que se preze. E eu rebati dizendo: "cada um tem o segredo que merece". 
Sorrimos e várias vezes ficamos em silêncio sem assunto nenhum. Daí ele me perguntou se eu acreditava nas pessoas. Eu respondi com uma pergunta nada a ver. Falei sobre o peso que às vezes  damos para algumas histórias que no fundo eram porra nenhuma. Mas, não era o fim. Como dizia Frida (Maravilhosa) Kahlo :" onde não puderes amar, não te demores". 
Ele tocou de leve a minha mão direita com o dedo indicador e ficamos nos olhando cúmplices de tudo que não sabíamos um do outro.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Kali


um desejo recôndito surgiu nessa madrugada de domingo pra segunda num lampejo de insônia, que eu não tinha há tempos. Quis ver brotar da terra ao invés do mais rico e escuro  petróleo, dinossauros famintos e carnificentos. Bons corredores, brincariam com nossos corpos-bonecos e nos  comeriam devagar, primeiro arrancando-nos os membros inferiores e por último a cabeça, chupando os ossos e palitando os dentes reproduzindo o prazer sádico e guloso dos chamados "humanos" ao saborear frango à passarinho.
Eu lhes diria: venham amigos, nos comam! Desfrutem de um cardápio de seres vulgares e inconseqüentes. Aconselho porém um antiácido para lhes aplacar a azia, quase certa, provinda de nossa carne podre. 

domingo, 27 de outubro de 2013

edulcorante

é uma piscina salgada guardada dentro da caixa de velhos ossos, a mesma que guarda o coração.  Água parada, de salgada vira mágoa que amarga o meu café, muito mais. Nem um kg de açúcar. Nem o mel mais puro e anti-inflamatório. Nem o adoçante poderoso e insípido da grande multinacional. Hoje, não há doçura pra quem queira.

sábado, 26 de outubro de 2013

Relevante

com a mão direita e as pontas dos dedos, escolho tudo que é áspero, ruguento, entexturado e passeio com carinho, hora com palma, hora com digital.Tem paredes, plantas e tudo que fica ao alcance. Quase tudo é engruvinhado, quase nada é "perfeitamente" plano... Mas, é tudo tão honesto em seu relevo, é tudo tão hostil em seu existir... É tudo simplesmente relevante... Porque é prolongamento dos dedos. Também sou eu.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

andei por muito tempo achando coisas sobre quase tudo e chegando a pífia conclusão de que eu não sei quase nada, sobre quase tudo (a não ser  informações básicas de como sobreviver nesse mundo hostil. Hostil em quase todas as áreas é bom que fique claro, inclusive no amor).
38 anos, corpinho de 38, cicatrizes e marcas de 38 e  muito mais do que 38 arrependimentos.
Essa também sou eu. E tem uma outra que é louca pra sair correndo sem rumo. E tem uma outra da outra que quer sair voando. E tem uma outra da outra da outra que é uma selvagem pronta pra destroçar qualquer um com os dentes, tem a outra, da outra, da outra, da outra que quer se entregar ao abismo da vida com tanta intensidade que dá pra sentir o coração explodindo antes mesmo dele explodir. E tem a outra de outras 4 que quer morrer sendo penetrada pelo mais profundo amor. E tem aquela outra  de outras 5 que quer ser beijada com a língua pontiaguda da luxúria. E tem outra de outras 6 que quer ser dilacerada pela doçura de um belo dia de sol. E tem também  aquela outra lá,  que você ainda não conhece que quer tudo o que ainda não foi inventado. Quem não quer?!

sábado, 31 de agosto de 2013

vulnerabilidade

enquanto esperava a peça começar, inventei que era uma estátua para não ter que socializar nesses dias de misantropia. Mas, o perfume de um sabonete que eu nunca senti invadiu minhas narinas como o cheiro da carniça ao sol. De incômodo, transformou-se em pranzenteira visita. Bom saber que existem cheiros imprevisivelmente ordinários. Ao lado, um rapaz que aparentava 24 não parava de se mexer, reunindo toda a ansiedade juvenil em gestos e movimentos entrecortados. Era dele o cheiro de banho cuidadoso. Era dele a aflição de não saber o que fazer com o corpo. Olhava em  direções estilhaçadas  como quem procurava abrigo. Não encontrando, voltava aos movimentos estereotipados do início. A minha frieza do começo, deu lugar a uma compaixão estranha, dessas que dão vontade de acolher. Dessas que dão vontade de dizer: estou aqui e cuidarei de você. Eu que ando exausta pra cuidar de mim mesma. Desse ponto, imaginei a cabeça dele encontrando paz em meu pescoço. Seus dedos finos passando a repousar sobre minha mão, que delicadamente dedilhava sua palma ampla. Beijava sua fronte e dizia palavras doces do tipo: farei de tudo para que você se sinta pleno. Enfim, essa sucessão de ações clichês terminavam por acalmá-lo e deixá-lo seguro e belo... De repente, o texto da atriz interrompeu meu pensamento. Voltamos.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Whisky

o vinho, sem dúvidas é minha bebida predileta depois da água. Contudo, na minha idade, às vezes leva a um estado um pouco inconveniente e absolutamente desnecessário, próprio de Dionísio-Baco, causando euforia, êxtase, (essa alegria desmedida dos infernos) e despencando para o caos e para a tristeza profunda. A cachaça, minha segunda bebida, abre o apetite, esquentando os pulmões e trancando o coração, impedindo-o de pensar nas grandes merdas da vida. Já a cerveja, relaxa os músculos dispersando o cansaço e o desânimo, combina com sol e com nenhuma expectativa. O Whisky, a última da minha lista, é uma bebida solene. Se você pede um Whisky na minha idade, em geral será bem tratado, primeiro por conta do preço e segundo, pela escolha. O Whisky não causa! Ele arrefece a alma impedindo que se faça qualquer bobagem. Agora entendo muito quando minha vó me oferecia uma dose de Whisky. Ela me dava conselhos elegantes enquanto mexia o gelo com o dedo indicador. Não é apologia a bebidas. É bom que fique claro. Não sou de apologias. Nem mesmo um mapa de uma especialista. Trata-se apenas de um relato sobre minhas preferências e o que elas causam em mim. Só. Ademais, eu estou quase parando de beber. E o que isso me causa é muito bom. Clareza.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

fratura exposta

quando eu tinha 15 anos, um dos meus maiores sonhos era sofrer uma fratura exposta no braço direito, por questões óbvias: a escola era um saco e eu era uma adolescente sombria e egocêntrica. Felizmente, isso nunca ocorreu, mas, me fez constatar que nessa idade eu era um cemitério de ambições.
Com o tempo fui percebendo que essas fraturas vão ocorrendo metaforicamente. Percorrem o coração, o fígado, e englobam pulmões, sonhos, fetiches, dentes e por aí vai. Mas, um couro grosso vai envolvendo tudo que se parte ficando parecido com um exoesqueleto, com uma armadura meio deformada, e a gente assim,  prossegue, porque é o que deve ser feito.
Refletindo agora sobre qual seria meu maior sonho, exatamente às 21:02 do dia 14 de agosto de 2013, eu diria que é me tornar um pouco mais íntima das coisas, do meu corpo e de tudo que me cerca. Mapear com o coração cada centímetro que eu conseguir. Dizem que os orientais costumam preencher com ouro as emendas de suas valiosas porcelanas quebradas para valorizar ainda mais a história de cada uma delas. Assim seja também com tudo que se parte e for passível de conserto.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

horizonte embaçado

300 janelas fechadas com cadeados. 300 janelas (uma dentro da outra). 300 chaves. 300 paisagens. 300 possibilidades. No entanto, janelas não são portas

domingo, 4 de agosto de 2013

Band-Aid

você me lambe devagar,  como os animais lambem  suas feridas. Mas, o que tenho são só cicatrizes de dores que eu mesma já curei. No entanto, sua língua é bem-vinda, pontiaguda, úmida e aquecida. Faço gosto que ela volte quando der.

sábado, 20 de julho de 2013

saudade não existe

abri a janela sem esperar absolutamente nada. De súbito um vento lânguido entrou separando as mechas do meu cabelo começando pela nuca até o topo, como se quisesse me despentear. Fiquei pensando nas pessoas que já se foram e onde elas estarão. Nas ondas de ar noturnas?! Nos raios de sol suaves que atravessam as árvores do cerrado?! Nas centelhas de terra vermelha que se deitam nos meus sapatos?!
Rachel's - An Evening Of Long Goodbyes

sábado, 13 de julho de 2013

macio

sua mão pousada em meu ventre, faz promessas. Afaga por dentro e ajeita meu coração que há tempos virou estômago

quarta-feira, 10 de julho de 2013

post mortem

quando eu morrer, que joguem minhas cinzas num palco de teatro. E logo após, passem a vassoura para que um novo espetáculo recomece.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

sexta-feira, 28 de junho de 2013

oui

agora sei que a minha subjetividade é o que tenho de mais precioso. O único tesouro.
E a minha história apenas serve para dizer que eu existo, eu vivo, eu sou. Somos apenas turistas...

terça-feira, 25 de junho de 2013

wet


quando você fechou a porta eu tomei um gole da água misturada que você tinha acabado de fazer pra mim. Bebi toda a nossa saliva dos beijos de 10 minutos atrás. Enquanto matava a minha sede,  lembrava como a homeopatia me faz bem... doses esparsas....gotas......fortes...densas...vigorosas...de você. 

segunda-feira, 24 de junho de 2013

círculo é aquele sem princípio, nem fim

Latcho Drom - Taraf de Haidouks



a música cigana me inverte, me faz salivar. Estalar os dedos como se fosse dança pátria. Rememorar o que nunca vivi no quadril e nos seios balançantes. Quero rodopiar até morrer. Quero acender um charuto e beber até cair. Arrancar do corpo tudo que esconde.... voar sem rumo, dionisíaca...

domingo, 23 de junho de 2013

minhas palavras de ordem, cravadas no cartaz do meu peito: auto-educação, noção de alteridade e intuição

"Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas as margens que o comprimem" Bertolt Brecht

sábado, 22 de junho de 2013

louca é a sua mãe




The Benny Goodman Orchestra - Sing Sing Sing 

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Masterpiece and revolution

de molho, a revolução continua na rua... E meu coração  latindo que nem cachorro louco. Claudicante, fica difícil correr da PM. Então, aproveito pra colocar em dia os filmes e livros de arte. Fahrenheit 451, é do Truffaut. O primeiro filme dele feito em língua inglesa. Belezura que faz a gente querer acreditar no ser humano. Porque querer, ter vontade e desejar, podem mudar qualquer realidade.
 Assista com uma boa xícara de chá e abra mil portas na cabeça. Nem precisa ser de cogumelo, porque, arte mesmo faz a viagem ser lisérgica sem o menor esforço. Enjoy!

quinta-feira, 20 de junho de 2013

leia se estiver preparado/a

Zygmunt Bauman  - "Amor líquido é um amor “até segundo aviso”, o amor a partir do padrão dos bens de consumo: mantenha-os enquanto eles te trouxerem satisfação e os substitua por outros que prometem ainda mais satisfação. O amor com um espectro de eliminação imediata e, assim, também de ansiedade permanente, pairando acima dele. Na sua forma “líquida”, o amor tenta substituir a qualidade por quantidade — mas isso nunca pode ser feito, como seus praticantes mais cedo ou mais tarde acabam percebendo. É bom lembrar que o amor não é um “objeto encontrado”, mas um produto de um longo e muitas vezes difícil esforço e de boa vontade."

segunda-feira, 17 de junho de 2013

White Monday

Meu corpo ainda dói e os hematomas ainda tem cor. Os pontos no joelho estão inchados e arroxeados. A selvageria da PM despreparada deixa lembranças pra sempre em meu coração. Um misto de sensação de morte com sensação de perda de algo que não sei o nome. Mas, o que mais me deixa triste é que em decorrência disso tudo, não posso estar na esplanada nesse exato momento, lutando por tantas coisas que se acumularam que demoraria um século pra organizar. Momento histórico e eu de molho... Lágrimas.


domingo, 16 de junho de 2013

pés plantados no céu

 o que faz um grande ator? Não tenho a menor ideia. Contudo, tenho certeza que, mesmo tendo o corpo mais trabalhado, a voz mais treinada, a técnica mais apurada, a base mais acertada, o timing mais equilibrado, nada adiantará se esse indivíduo não possuir incertezas. Se esse cidadão crê que sabe algo de fato, ou se julga o criador da pólvora, o que veremos em cena, será a própria pessoa vindo antes de qualquer personagem. O ego se refestela. Penso,  que o exercício é fazer com que o personagem venha com antecedência e permaneça o tempo que for necessário. Ser ator é um exercício de alteridade.

Ditadura feelings

meia noite e catorze e estou aqui, com insônia, porque ontem participei da manifestação em repúdio à violência ocorrida recentemente em São Paulo; a favor da liberdade; em desacordo com 1 bilhão gastos nesse estádio pra gringo ver; em defesa do meu transporte público que demora 1 hora e meia quase todo santo dia etc, etc, etc....muitas coisas para protestar em tão pouco tempo. Nesse sábado de colocar a cara a tapa, o saldo que tive foi: 2 Bombas de gás lacrimogêneo no meu pé, balas de borracha, hematomas por todo o corpo, o joelho esquerdo destruído e um banzo sem fim. Só fui ao hospital, porque não parava de sangrar. O médico, olhou para a lesão assustado e disse que parecia que eu tinha levado um tiro de verdade. Ficou uma hora avaliando se tinham fragmentos do projétil. 5 pontos. Mesmo assim, não me arrependo de ter ido. Porque nada pode calar a liberdade e a melhor hora é sempre nesse exato momento. Não, eu não sou valente. Não, eu não sou corajosa. Eu só estou cansada.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

conselho para suas dores

faço de sua dor a minha e te convido a bailar como nos velhos tempos. Cantantes, que somos, de corações irrequietos, acalentamos o peito na dança da morte. Bebamos pois, cada gota salgada, misturadas ao álcool de mais puro ardor, que lave, defenestre e limpe as veias entupidas de rancor e só reste a saudade (amor que fica)

Taraf De Haidouks - Rustem si suite


sábado, 25 de maio de 2013

sobre Palestras que nunca darei

tema: amor
tema: INSS
tema: Imposto de Renda
tema: homens
tema: Cocada
tema: ex maridos genéricos
tema: refrigerante

segunda-feira, 13 de maio de 2013

concordo 1000 vezes (fragmentos de belezuras de Eduardo Galeano pra inspirar a famigerada segunda)

" Este mundo está armado assim...é um tecido de encontros e desencontros...de perdas e de ganhos...e o melhor dos meus dias é o que ainda não vivi...e a cada perda corresponde um encontro que ainda não tive...E por sorte a realidade é generosa e não falha nisso ...na verdade eu escrevo para celebrá-la...e a celebrando denuncio tudo que impede que a gente reconheça nos outros e em nós mesmos as múltiplas cores do arco-íris terrestre. Somos muitíssimo mais do que nos dizem que somos"
Eduardo Galeano- Sangue Latino

domingo, 5 de maio de 2013

além do bem e do mal

nesses meus 37 anos e meio, vividos às vezes, de maneira intensa e outras de maneira tediosa, e de mais erros do que acertos, aprendi algumas poucas coisas que em certos momentos parecem escapar feito fumaça e em outros dão a impressão reconfortante de que são acumulativas. Contudo, temo que não sejam, pois, memórias falham...
 Aprendi que o esforço humano para manter as aparências talvez pudesse ser utilizado em prol de grandes feitos, tais como acabar com a fome mundial. Veio com Maquiavel e ainda prevalece nas paradas de sucesso da nossa mediocridade. Exemplos não faltam. Tenho dois vizinhos casados que quando passam na minha frente exibem-se como pavões exalando sexo, alegria e prosperidade, mas, as paredes finas do prédio deixam as sombras se alastrarem pelas pilastras e o que se ouve não é nada bonito...acusações sobre a virilidade do companheiro, traições, ciúme exacerbado, ataques, xingamentos e gritos ao invés de gemidos de prazer. Se houve indícios de sexo foi uma ou duas vezes e adorei, porque é o tipo de coisa que até me faz querer participar. 
Outro assunto que me intriga é a capacidade do ser humano de transformar-se em vítima. Porque, enquanto há uma vítima, sempre haverá um algoz. E daí o ''mal'' vive no alheio, nunca em nós  mesmos. É fato que existem vítimas de verdade e essas merecem nossa compaixão e atitude. Não são essas as quais me reporto. Lembro de certa vez colocar em xeque a lealdade de um grande amor, não por ter ficado com outra pessoa, mas, por ter ficado, possivelmente, com uma outra pessoa que era uma grande amiga. Mas, o que é uma amizade? O que significa ser fraterno? Implica lealdade? Esse grande amor e a outra pessoa amiga, juraram que nada tinha ocorrido e ainda (como de praxe, nesse mundo machista)  disseram que eu era louca aconselhando em seguida, um psiquiatra. Vítimas de uma desequilibrada.
Sim, o desejo pertence a cada um de nós.  Assim sendo, definitivamente não temos que dar satisfação a ninguém sobre ele, nem mesmo aos parceiro/as, mas, e sobre a amizade? Ela é menor que o desejo?
Seguindo esse rol de questões,vem o pré julgamento, aquele que mais olha para fora do que para dentro. Minhas experiências difíceis no campo do amor, me fizeram rever toda minha inabilidade de olhar o outro com empatia, pois, quase nunca olhei pra mim de forma bondosa. E tudo começa no mais profundo de si. Não há como compartilhar o amor, se para si mesmo existe mesquinhez. Julguei como a rainha de copas e saí cortando cabeças como quem colhe maçãs podres e as  descarta sem piedade. Orgulho ferido, amor não correspondido, ser trocado/a é foda... A rejeição é para os monges que atingiram ao nirvana, não para os "humanos, demasiado, humanos".
E pra finalizar porque não há mais espaço nem vontade de escrever, vem a síndrome de superioridade que leva o indivíduo acometido de tal baboseira olhar para o ''resto'' como se fosse o enviado do além. Creio, que seu escárnio para com os outros, na verdade, é para consigo mesmo e tudo que odeia em si.
Bom, pra mim, só resta um sorriso meio cínico que carrego quando o passado tenta me assombrar. Eu rio de lado e penso: somos um cisco camarada, somos um grão... Não sabemos o que se passa com o outro. Não sabemos nada. E ousamos julgar, condenar e desprezar. Essa quinta passada, por exemplo, fui investigar a vida de um de meus alunos adolescentes, porque era a segunda vez que eu observava um comportamento estranho da parte dele, quando não era choro, era uma certa apatia que PARECIA pouco caso com minha aula. Foi quando me veio a notícia de que seu pai estava numa cama vegetando desde 2010 em decorrência de uma doença degenerativa.
É assim... meio torto...meio errado... é vida que continua... e vou com minha máscara da monstruosidade ganhando fama como a ''mulher má''. Nada de ser a boazinha que tudo aceita.
Certo. Somos amor. Mas, precisamos escavar muito para que ele se manifeste.
Eu, monstra

sábado, 4 de maio de 2013

quarta-feira, 1 de maio de 2013

domingo, 28 de abril de 2013

24 segundos

ontem vi o amor pairando com asas azuis fronte a fronte e entendi o que você costumava me dizer. No beijo percebi que pode durar uma noite. Apenas uma noite. Pode queimar como um pavio. E ainda assim ser tão forte quanto um ano.


domingo, 21 de abril de 2013

Forever young (só que não)

você decide ir a um evento em volta do lago porque ama o lugar, é de graça, adora arte, objetos interessantes e música boa. Mas, chegando lá você percebe que motivos florais estão bombando, cabelos assimétricos e ruivos do tipo “eu nasci na Holanda” são o corte do momento, ser eternamente adolescente é lei, e que, levar um amigo gringo e falar sobre suas próximas férias em Berlim é o “último” grito da moda. Fora os filmes cults, as músicas hypes e as roupas rasgadas nas boutiques, que eu até gosto. A não ser pelos cupcakes você se sente totalmente deslocado e pensa que pra festa ficar legal você teria que usar “subterfúgios”. Sim! É chegada a hora de frequentar os bailes da terceira idade e as gafieiras animadas. Velhice me abrace forte, porque eu não conheço ninguém que não tenha medo da senhora...

sábado, 20 de abril de 2013

quarta-feira, 17 de abril de 2013

seremos felizes no outono

ao vivo, ficarei muda. Você poderá encaixar-se automaticamente no vão entre meus seios e continuaremos em silêncio, fingindo que nos conhecemos. Desse modo, nada mais será frio ou quente.

terça-feira, 16 de abril de 2013

convite

aninha tua cabeça no côncavo do meu pescoço, faça dele tua morada e aquieta o coração. Sou forte sem escudo ou espada. Cuidarei, pois,  de todos que vivem em mim e em ti.

domingo, 14 de abril de 2013

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Nostalgia 2

B. A, jan, 2013

segunda-feira, 8 de abril de 2013

sábado, 6 de abril de 2013

é assim



Migala - Gurb Song
Eu queria alguém que entrasse em minha vida como um pássaro que entra em uma cozinha
E começa a quebrar coisas e se bater contra portas e janelas
Deixando caos e destruição.
Por is
so foi que eu aceitei os beijos dela como alguém que recebe um panfleto no metrô.
Eu sabia, não me pergunte por que ou como, que dividiríamos até nossa pasta de dente.
Nós fomos nos conhecendo acariciando as cicatrizes um do outro
Evitando chegar perto demais, saber coisas demais.
Queríamos que a felicidade fosse tipo um vírus que alcança cada espacinho em um corpo doente
Eu transformei minha casa em uma cama d´água e os peitos dela em castelos de areia escura
ELa me deu suas metáforas, suas garrafas de gim, sua coleção de selos da África do Norte.
À noite nós falávamos em sonhos, um de costas pro outro, e sempre, sempre, concordávamos.
Os lençóis eram tão nossa pele que paramos de ir pro trabalho.
O amor virou um homenzarrão forte ao nosso lado, terrivelmente útil, um grande mentiroso, com olhos imensos e lábios vermelhos.
Ela fez com que eu me sentisse novo em folha.
Eu assisti enquanto ela enlouquecia, perdia a linha, ouvíamos Nick Drake em seu toca-fitas e ela me disse que era escritora.
Eu li seu livro em duas horas e meia e chorei do começo ao fim, como se estivesse vendo Bambi.

Ela me disse que quando eu pensasse que ela já tinha me amado tudo o que podia, ela me amaria um pouco mais.
Meu ego e seu cinismo realmente se deram muito bem e dizíamos "o que você faria se eu morresse" ou "e se eu pegasse Aids?" ou "você não gosta dos Smiths?", ou "vamos transar agora". Deixamos nossas digitais por todo o meu quarto, o café da manhã era automaticamente preparado, e se ele viesse para a cama em um carrinho, sem mãos, competíamos para ver quem teria os melhores orgasmos, as melhores visões, as maiores ressacas. E se ela engravidasse decidimos que teria sido culpa das mãos de Deus.

O mundo era nossa ostra.
A vida era vida.

Mas então ela teve de voltar para Londres para ver seu namorado e sua família e seus melhores amigos e seu bichinho chamado Gus.
E sem ela eu estou horrível. Pintei minhas unhas de preto e cortei meu cabelo.
Abri minha coleção de fotos e nosso passado pode não ter limites e eu sei que o processo é cortar cada seção da minha história cada vez mais fininho até que eu fique apenas com ela, me sinto uma merda o tempo todo não importa quem eu beije ou quanto charme eu tente jogar em meus novos pássaros. 
Esta é a questão, não é? Novos pássaros que me projetarão por um fio do subsolo para o ar, para o mundo...

quarta-feira, 3 de abril de 2013

previsibilidade

um copo de "mais do mesmo" me mata mais do que um copo de cicuta

terça-feira, 2 de abril de 2013

...

não tenho carro por opção.  Não tenho t.v por opção. E só tenho celular porque ainda não é possível viver sem ele. Tento sempre que minhas ações sejam coerentes com as minhas ideias, mas, minha ''humanidade demasiadamente humana" me faz, invariavelmente, falhar. Não faço isso pra ser aceita em um grupo, ou pra ser musa inatingível de algum desocupado. Faço, porque daí resulta minha integridade. Cada vez mais luto pra ser autêntica sem ser agressiva ou julgadora, nem sempre consigo.
 Quero, que a mesma liberdade, pela qual eu luto seja de usufruto coletivo. Isso me bastaria, não fossem todos os meus sonhos.
Finalmente, é importante que se saiba que não preciso acreditar na ''verdade" do outro para que ela seja verdade. Basta que o outro acredite. Fé é experiência individual e intransferível e deve ser respeitada, não tolerada. Não importa se é fé em Buda, na cotação do dólar ou em absolutamente NADA. Posso, apenas, me reservar o direito de no íntimo achar tudo ilegítimo, contudo, em nenhum momento terei o direito de desqualificá-lo. Salvo quando for um tipo de fé que exclui ou invade direitos básicos.
Enfim, desejo que as ironias, acusações, frases engessadas e violências sejam sempre palavras cuspidas sem direção. E que o peito aberto pra uma nova vida seja via de regra pra cada amanhecer.
 Fab Ciraolo

sábado, 30 de março de 2013

"Ser amado é ser finalmente visto" Fabricio Carpinejar


eu sempre pensei sobre isso, mas, nunca consegui sintetizar de maneira tão clara.
 Ser visto com uma lupa dói... eu me sinto como se alguém enfiasse o dedo na minha carne aberta e encontrasse partes vermelhas e suculentas e outras em estado avançado de decadência... daí, bem no meio desse escrutínio amoroso, espalmasse meu coração faminto e assassino e, ainda assim, me admirasse e me quisesse ao seu lado.

quinta-feira, 28 de março de 2013

domingo, 17 de março de 2013

assim





GISELE DE SANTI - E EU 




Você querendo só canção e eu inventei um estilo
Você arrasou meu quarteirão e eu construindo um edifício
Amor, você judiou, e eu?
Amor, quem tropeçou fui eu
Você ficando só no muro e eu caminhando em círculos
Você é futuro que passou e eu vivendo de particípio
Amor, você brincou, e eu?
Amor, 'cê amargou meu eu


sábado, 16 de março de 2013

pequeno inventário de delicadezas diárias

delicadeza, assim como quase tudo, é artigo pessoal e raro. Eu queria muito ter uma visão além do alcance, dessas que não deixam escapar nem a menor das delicadezas do mundo. E hoje, entre obrigações eternas e a pintura quinzenal dos meus cabelos, fiquei extasiada (como sempre fico) quando a tinta sangrenta escorreu em jatos no tanque branco. Dra-ma-ti-ca-men-te respingando em tudo. É um acontecimento... De uma suavidade macabra. Nunca fica da cor que eu quero, mas, o suspense e a explosão vermelha na minha cara, já valem o dia.

sexta-feira, 15 de março de 2013

agora

atracada a uma heineken eu penso sobre todas as qualidades que não possuo. Sobretudo por não ter sido atenciosa demais, ou por não ter sido fofa demais, ou por não ter feito alguém feliz. Deve haver alguma atividade mais nobre do que fazer alguém feliz. Porque, se nem o próprio cidadão é capaz de tal façanha, porque eu seria?
É certo que as pessoas perdem tempos preciosos fazendo comparações, elegendo os melhores e os piores para que suas vidas miseráveis façam algum sentido e as pessoas as quais estejam associadas hoje em dia sejam melhores do que as do passado. Mas, pra que serve isso? Qual é a função? Estamos todos mortos. Facilitaria bastante tratarmos todo mundo com deferência e um pouco de empatia.
Não supro expectativas. Me interessa aquilo que acho estranho. Não luto por quem não me ama. Não dou segunda chance pra quem foge de mim. Simplesmente porque não me interessa. Não sei sambar e não curto moda de viola. Sou de ficar possuída pelo que amo, sou do vento e da histeria (grito de socorro contra minha própria repressão sexual). Amor pra mim tem que me manter assim...íntegra.

segunda-feira, 11 de março de 2013

tudo tem um sentido



Lead me Home - Jamie N. Commons

domingo, 10 de março de 2013

se eu pudesse voltar atrá...

eu não gostava de Caetano e agora eu gosto. Nem sempre entrava no mar, agora, entro até de roupa. Tinha medo de altura, agora consigo subir mais alto do que você possa imaginar. Era ciumenta, agora, deixo pra lá e cuido da minha vida. Era morena, agora, sou ruiva pra sempre. Era risonha, agora, sou econômica e aplico na bolsa. Era preocupada, agora, tento fazer o possível. Gostava de agradar, agora, me agrado. Queria um filho, agora, quero manter a minha liberdade. Sonhava com uma família e um parceiro no crime, agora, sonho com o mundo. Queria ter razão, agora, me contento com ser feliz...
Tem tanta coisa que não é mais, que fico pensando se já fui aquela versão fraquinha e desbotada do passado...porque sinceramente...não gosto daquela versão. Não me orgulho. Well, C'est la Vie!





Caetano - Abraçaço

sábado, 9 de março de 2013

Monalisa, a cínica

tem  coisas que  não servem mais para minha vida, tais como: gente mesquinha que conta as moedas  encostando-as nos olhos e conferindo cada tilintar na carteira, que cobra as gentilezas com juros e esconde comida só pra não dividir; gente que quer doutrinar e  finge que é "apenas" uma conversa; boy que se finge de santo, se vitimiza e demoniza a parceira como se ela fosse uma bruxa porque é incapaz de olhar às próprias limitações (esse tipo, pra mim, merece várias chifradas); programas hippies (não me convide por favor! Não tenho muitas ambições, nem frescuras, mas, ir para um lugar onde o ar seja rarefeito, a comida e a água quente, estejam a léguas de distância e onde cabelos e barbas mal cortados com pulserinhas de artesanato sejam o último grito da moda, definitivamente, não é pra mim); e principalmente,  gente que culpabiliza a tudo e a todos e se redime das próprias responsabilidades....Ahhhh vai faltar vida útil pra tanto item na lista.
Ryan Deus Gosling: elegância,talento e pecado, não são pra qualquer um

sexta-feira, 8 de março de 2013

8 de março

nunca pensei que ser mulher fosse ser poderosa, multiativa, fodona. Dessas maquiadas e bem vestidas que lutam com a celulite, malham preocupadas com a bunda e planejam peitos que custam o preço de uma viagem ao Caribe. Conseguem ser lindas, administrar filhos, boys, carreiras e mesmo com tudo isso, fazem tratamento de dente até o final.
Sofro pacas quando o assunto é expor meu corpo, porque minha relação com ele sempre foi estranha, conturbada... Algo como me sentir um hospedeiro em um lugar que não me pertence. E isso ficou ainda mais contundente, quando eu me separei e logo após, fui desprezada e trocada, numa história com um boy que eu  amava de verdade. Daí, tive impressão que  minhas questões não eram exatamente de gênero. Não sei o nome disso. Não saberia como classificá-las.
Nunca me dei bem com vestido e batom. E luto pra ser vaidosa. (Ainda não entendi porque luto).
O fato é que, o dia das mulheres deve ser lembrado até pra gente entender, que porra é ser mulher....
Percebo, que  não é pra qualquer um, talvez, nem pra mim.... Só atesto que é uma paulada tentar ser dona de si. Reconhecer-se um indivíduo livre. Eu por exemplo, tenho vocação pra ser só.
Honestamente,  não sei se essas observações tem a ver com gênero ou com manter traços humanos num mundo cada vez mais virtual e sem espontaneidade.

terça-feira, 5 de março de 2013

inabilidade social

na sexta passada, após uma reunião noturna de trabalho a qual eu jurava que ia ser difícil, saí aliviada e exausta pensando no sábado e no outro trampo que me esperava pela manhã. Quando duas amigas me convidaram pra comer e beber .....e esquecer.... sentei no boteco do tamanho do meu bolso e fui logo pedindo cerveja e comida, pra anestesiar a cabeça que não parava de pensar que eu podia ser rica. Bebi como se fosse cicuta, como se fosse o último dos venenos fabulosos desse mundo, esperando morrer linda nos braços de Morfeu. Chegou o sanduíche e o dividimos comedidas,  proletárias elegantes, pensando na conta  mais barata. Conversa quente sobre os boys das jovens companheiras de trabalho, quando de repente, um cara com traços orientais passa ventando na frente de nossa mesa, pede licença e ajoelha ao meu lado:
ele __ Oi! Meu nome é R. Eu estava te olhando faz um tempão. Te achei uma gata...Qual o seu nome?
Nesse momento as jovens começaram a rir maliciosas.
__ Oi!Meu nome é Simone. Obrigada. (sorriso mais que tímido querendo sair correndo)
ele__ O que você faz Simone?
__ Sou atriz e professora...
ele__ Uau...que interessante...
__ Onde você trabalha?
Expliquei onde trabalhava sem muitos detalhes, com medo dele ser o psicopata das facas Ginsu.
ele __ Me fala sobre como é ser artista...eu sou jornalista, funcionário público.
___ Ah... como artista eu me sinto a maior parte do tempo livre. Pronta pra ir embora. Meio do mundo...Cosmopolita, como eram denominados os atores gregos...eles eram tratados com muita deferência e não como estrangeiros. Gosto de ter essa ilusão...
ele__ Sério? E ser professora?
__Ah...é como ser funcionário público...estamos sempre nos submetendo a algo...a arte não se submete sabe?! Pra mim, o material artístico do bom, está no inconsciente....é livre por natureza...e trabalha com a nossa Sombra...tudo o que escondemos e nos torna vulneráveis...
ele___ (voz exasperada) Você é muito arrogante!
___ Eu?! Desculpa! Eu não quis ser arrogante.... Sério. Eu só acredito mesmo que, quando trabalhamos para uma empresa, "vestimos uma camisa" que às vezes nos impede de qualquer manifestação mais sutil que demonstre o que de fato somos, ou no que acreditamos...
ele__ Você ficou brava?!
__ Não! Só não queria ser mal interpretada...
ele__ Você ficou brava...
__Não.
Nessa hora ele tirou o cabelo do meu rosto como se fosse um velho conhecido e daí sim eu fiquei com muita raiva. Senti vontade de acertá-lo com um soco que durasse uns 10 minutos.
ele ___ Eu sou arrogante.
___ Quer dizer que você projetou sua arrogância em mim?!
ele___ Pode ser...
___ Gostei da honestidade. Quer dizer que você não liga para o que os outros pensam?
ele___ Ligo sim.
Gargalhadas minhas.
ele___ Eu te achei muito interessante... não esperava....você é bem mais interessante do que eu imaginava...e linda...
___ Ah....legal...valeu
ele___ Vamos ao cinema?
___Cinema?!
ele___ Ver ''Amour".
___ Porra..."Amour" ...errr...
ele___ Me dá seu número.
Dei o número.
ele___ Vou te ligar agora, mas, você é quem vai me ligar, se quiser, ir para esse cinema, ok?!
___ Ah...sim claro
Pagamos a conta e R. veio em minha direção pra se despedir. Seus amigos sorriram pra mim e deram tchau.
As meninas acharam o cara o máximo e me fizeram prometer que eu ligaria para ele. Respondi que talvez...quem sabe...
Não. Não liguei. Não. Não pretendo ligar.  Acho que realmente sou arrogante.  
                                                       

domingo, 3 de março de 2013

névoa fina

já faz algum tempo que minha t.v virou apoio para vaso. Ela já era bem velha, da época em que eu ainda era estudante e morava numa república.
Basta uma t.v pra eu começar a bocejar. Gosto de filme e alguns seriados, mas, sou de um período em que conteúdo de t.v aberta só era bom de madrugada. Agora, a maior parte, transita entre o lixo e o desnecessário. Como não tenho t.v à cabo, ela só faz falta porque me dava o sono que eu ando perdendo.
Mas, temos a internet com todo tipo de assunto. Daí, dando uma zapeada, deparei-me com os filmes do Ingmar Bergman, o queridinho dos hipsters, cineastas cults e atores metidos. Mesmo com  minha preguiça contumaz desse povo, me rendi aos encantos desse diretor fodástico.  "Gritos e Sussuros", "Morangos Silvestres" e "Cenas de um Casamento" são as pérolas que eu desfrutei, legendadas e disponíveis nesse mar cibernético.
Chapou a minha alma, como num soco certeiro. Fiquei tão mal de cabeça, que me confundi com seus personagens: calados, sombrios, cheios de dúvidas, solitários, entediados e abarrotados de segredos inconfessáveis. E foi bom, porque me senti fazendo parte de algo realmente humano e imperfeito. Nada de felicidades sépia, instantâneas e corrigidas, esfregadas na minha cara e implorando para serem reais.
Amei e espero profundamente que a "verdade" sobre as coisas, àquela que, em geral, instala-se embaixo dos tapetes, venha para ficar em minha vida.





segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

con (in)spiração

meus pés
existe uma conspiração invisível e adorável para que tudo aconteça seguindo à risca, o que deve ser feito. De pouco em pouco e chegando lá. O pouco parece as vezes, irrisório, quase nada, mas, é assim, humildemente, que me achego. Direciono e vou. E vou a pé, com meus passos curtos e quase sempre,só.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

?

hj, depois do café da manhã, senti uma vontade doida de namorar. Leia-se andar de mãos dadas; beijar até a boca arder; passar o dia inteiro na cama entregue a luxúria e a baixaria que só funciona quando tem olho no olho e cheiro compatível; tomar banho junto até a pele ficar engelhada; assistir filmes com as pernas embaralhadas; beber vinho e falar merda até a boca ficar borrada, o dente manchado e admirando muito as merdas do outro; dançar junto até o dia raiar; gravar músicas perfeitas pro cara lembrar... enfim, toda essa baboseira (e mais um pouco) que a gente faz quando tá apaixonada.
Daí, me lembrei dos filmes fófis dos anos 80 que fizeram a minha geração sonhar com boys que fingem ser seu pai pra te livrar de um dia chato na escola e te levam pra matar aula no Museu, passam no seu quintal sentados num carrinho de cortar grama depois de ter partido seu coração em mil pedaços, desejam a garota mais linda da escola e não percebem que a amiga ao lado é que é o ouro, só descobrindo isso no final etc, etc e etc.
Mas, fico pensando seriamente se esses clichês ainda me servem... se o que eu penso de amor agora, é assim tão ingênuo... porque eu acho que amor é pedreira.... é para os fortes que não tem medo do abismo das diferenças, nem das discordâncias e muito menos, dos sonhos distantes. É pra quem quer a revolução de não se permitir acreditar que o outro estará sempre lá e que a insegurança gerada por esse fato, significa uma demanda muito grande de cuidado e preciosismo de ambas as partes. Será?!







sábado, 23 de fevereiro de 2013

Música do dia - Um só - China

Vou deixando tudo de lado
Não importa futuro ou passado
Vou pisando na incerteza
Na incerteza dos meus passos. 

Confuso sentimento
De entendimento impreciso
Não vou me demorar
Nos dias que já passei. 

Vou deixando tudo de lado
Não importa futuro ou passado
Pisando na incerteza
Mas confio nos meus passos. 

Eu sou mais um
Eu sou um só




.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Poesia

Russ Mills

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Comunicado

AQUI VOCÊ NÃO ENCONTRARÁ: perfeição, suas expectativas realizadas, plenitude, felicidade suprema ou maturidade total. Sem mais, grata pela atenção, Simone Marcelo Holanda (lutando pelo direito de manejar a própria vida sem a menor habilidade ).

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

40 graus

Calor, te exaltarei até cair em chamas e enfumaçada...  beijarei tua boca rumo ao ataque; encostarei de leve pra derreter o corpo já entregue; sorverei tua língua, desesperada e tonta;  arrancarei nos dentes tudo que é apêndice. O resto: gruda, mela, encharca, enfurece, contorce e luta dançando em labaredas azuis... o ar abafado vai apagando devagar os estalos de tudo...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Ectopia Cordis

no campo tudo ganha  clareza e simplicidade. O dia é dia. A noite é noite. Não há feriado. Não há férias. O tempo transcorre límpido e "correto" seguindo o Sol como medida pra tudo. A Lua é o descanso merecido após a labuta, que, em verdade, não é vista como tal. Parece, ao meu ver, vista como algo absolutamente fluido. Arar, plantar, cuidar e colher. Comer o fruto do que se planta.
Não tem champanhe que pague o luxo de comer fruto no pé. Meu pai pegou as siriguelas mais doces no topo. Caquis chocolate, bananas e mangas. Todas que ele plantou. E isso é como rememorar o paleolítico da minha vida. Eu fazia esse mesmo ritual quando pequena. O pai do meu pai, arrancava as pitangas mais rubras , as quais, eu só dividia com os  passarinhos, pois, as melhores ficam sempre no alto. Talvez porque guardem  em si os primeiros raios solares da manhã. Eu acho.
Assim sendo, me empanturrei de tudo que é meio caipira, meio antigo e meio tradicional. Desde mel orgânico, queijo curado, até ovos vermelhos. Resultado:   bochechas rosadas e peitos gigantes.
Para além do meu estômago e todo o afeto atrelado a comer e a preparar a comida, tem os bichos. As vacas soltas andando no chão lamacento da rua. As maritacas, barulhentas às 6 da manhã, os sapos gigantes. As aranhas assassinas que minha mãe cuida como se fossem da família... E agora, além dos gatos sobreviventes, tem o Vicente, filhote cão gaiato, que foi abandonado na frente da casa de Mama, a despeito das 3 câmeras de segurança. (Sim. O campo na pós-modernidade também tem câmeras, mas, até onde eu sei, ainda não tornou-se totalmente líquido e a mercê das leis de mercado. O campo ainda é o campo. Só não sei até quando...).
Eu batizei o Vicente e depois descobri que o significado do nome vem do latim e significa ''aquele que vence". Minha intuição aflorada acertou em cheio: quando ele chegou,  não emitia sons, não tinha pelos e sua pata traseira estava quebrada. Ele era a representação extrema do abandono e da maldade a qual o ser humano às vezes é capaz de se render. Não se movia e exalava um cheiro podre. Uma gosma transparente fazia parte do que tinha sobrado de pele. Era como se a morte iminente lhe mordesse os calcanhares.
Pois bem, o cachorro mais legal do planeta, ressuscitou como quem nem lembra do passado, aprendendo tudo de errado com Gaia, a cachorra mais sem limite do Universo. Parece feliz. E ficou tão belo que eu me apaixonei...
Minha mãe tem mãos de cura. Mas, eu fico pensando...quem cura e cuida dela?! Ela é tão arisca e selvagem que o dia em que eu fui lavar seus cabelos ela parecia um gato querendo sumir para um recanto distante. É a criatura mais bondosa, honesta e dura que eu conheço. Ela me faz querer dar-lhe colo e amor sem fim. Ela me faz querer rasgar o peito e deixar o coração todo pra fora, pegando vento forte, chuva e luz. Ela me faz querer cuidar de alguém.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Oxalá

viajar virou minha casa. Comi canela de cachorro, daí, nada mais me segura em lugar nenhum. Olho para atrás rapidinho e vejo  aquela  poeirinha de desenho animado, avisando que eu já estou indo embora de novo. É um tal de ir pra lá e pra cá que eu já tô com saudade de mim. Esse ano promete mais idas do que vindas e   malas cada vez mais leves...

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Carna-inside

hj, vou vestir minha fantasia mais preciosa. Vou me jogar no silêncio mais profundo, nadar em meus mares revoltos. Vou levando quase nada pra não pesar. Vou  transbordante de quase tudo, pra dividir. Não sou iogue, não sou budista, não sou xintoísta...só hoje, quero assim.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

cavalheiro

expor minha vulnerabilidade é difícil. Vários porquês poderiam estar aqui. Mas, não estarão.Quero falar de outro assunto. Quero falar de amparo. Não, não estou falando de assistencialismo. Trata-se de uma delicadeza fútil, parte de um assunto menos nobre. Leia-se aqui ,como um jeito de encostar as mãos na cintura do outro...um leve tocar com a palma, capaz de te guiar nos passos mundanos do dia-a-dia. É ação de regalo, de quem realmente se interessa. Acho bonito e até sinto falta. Pois, faço votos que mais e mais cavalheiros e damas espalmem sutilmente seus cônjuges amados, na ilusão de protegê-los de todo o mal.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

B.A nostalgia

Palermo - Jan, 2013

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Excel

a sensação que tenho é que estou andando de costas bem devagar e ao mesmo tempo tento encaixar meus pés em minhas pegadas antigas. O leve retrocesso se deve a um longo exame de consciência sobre minha vida pregressa. Descobri num susto que as pequenas distorções acontecidas deveram-se a uma profunda falta de olhar de perto os micro-detalhes que podem fazer total diferença no resultado que se almeja. Cuidado e delicadeza com tudo que se mexe e com tudo que é raiz. Isso é certeza agora, nesse exato momento que já se foi. Mas, além, fica também a sensação de que, se me organizar mais, vou conseguir ser livre como sempre desejei. Passos ventados no mapa mundi... e, tem as pesquisas, as palavras me cutucando... o palco, assombrando minhas noites...tem também os futuros infartos diante das obras de arte que ainda não conheci... e aquela boca em São Paulo que eu quero beijar até perder os sentidos.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

tem gente que nasceu para salvar...para desafogar o mundo inteiro



"Quando eu era criança, estava convencido de que tudo o que se perdia na Terra ia parar na Lua. No entanto, os astronautas não encontraram na Lua sonhos perigosos, nem promessas traídas nem esperanças estilhaçadas. Se não estão na Lua, onde estarão? Será que na Terra não se perderam? Será que na Terra se esconderam? E estão esperando, esperando por nós?"

                         
Eduardo Galeano

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

5 minutos

lembrei en passant, de um hábito meu antigo, quando casada, o qual não faço mais, não sei porquê. Dançávamos sem música abraçados por um tempão, seguindo um ritmo torto e pesado, entregues. Era bom, porque era uma dança sem defesas, sem temor. Era apenas uma dança sem música.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

black coffee



eu sou um rapazinho gay preso no corpo de uma mulher. E descobri isso no início da biografia de Andy Warhol. Não me pergunte porque. Eu não sei porque. Mas, tive o insight. E ainda nem terminei o livro. Até lá descubro mais um zilhão de coisas interessantes sobre quase tudo.

sábado, 12 de janeiro de 2013

carne moída

na rua Florida, ou em Porto Madero, ou em áreas undergrounds de Buenos Aires o tango samba na nossa cara, nos chicoteia e nos leva pela noite afora...querendo ir sem destino...
 Chorei arrebatada no caminho do Havana café, em pleno meio dia ouvindo um tango -jazz da banda El Metodo. Inolvidable... esse vídeo antigo não ajuda. Ao vivo é um massacre. Coração passado na máquina de moer carne.



quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

1527

1527 é um número cabalístico e designa a quantidade de vezes que me apaixonei nessa viagem. Contudo, essa contagem não leva em consideração comidas, paisagens, arquitetura e obras de arte. Estou falando dos  ininteligíveis HOMENS. Os boys  aparentemente xucros e guapíssimos de lá. Deu torcicolo de tanto me encantar. Prá qualquer lugar que minha mirada escapasse, lá tinha outro mino, com corte de cabelo estranho exultante em charme. Os portenhos nos lambem com os olhos. Nos desnudam devagar. Nos desejam com sede de lobo mau. E quando vão nos cantar, nos pedem em casamento (essa é a única parte assustadora!). É bem verdade que digo sim aos malandros cariocas, mas, por outro lado, digo COM CERTEZA aos cavalheiros argentinos. Amém.





quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Gorda



para o meu desespero, antes do réveillon em Buenos eu já estava acima do peso. Chegando lá no dia 25, passei a comer bife de chorizo (um tipo de carne do tamanho dos bifes de tiranossauro do Fred Flinstone), chorizo (uma linguiça dos deuses), papa frita (batata frita), ou purê de papa (purê de batata, aliás, nunca vi povo prá se empanturrar de batata), sorvete de dulce de leche na "heladeria" perto do nosso ap em Palermo (onde eu gastava meu portunhol dos infernos, porque descobri que 3 anos estudando espanhol só serviram prá eu flertar muito com o dono da sorveteria que se chamava Kevin e que vivia me dizendo que eu estava ''muy hermosa''. Fofo e guapo!) , alfajor havana (1000 calorias por dentada), beber 100 litros de jugo de pomelo e 700 garrafas de vinho... Resultado?! 6 kilos a mais no meu manequim de mulher de 1,50 m. Ou seja, virei as mineiras com ascendência italiana da minha família  (elas tem braços de biscoiteira e peitões de dar inveja às siliconadas). Mas, tô tão feliz que quase acredito naquela esparrela dos "acima do peso" convictos que vivem dizendo que são gordos, porém, realizados. E agora?! E agora a Inês é morta e minha dieta será espartana.
braços de biscoteira no Don Julio, melhor carne da minha vida! Fica no Palermo Soho, Guatemala com Gurruchaga. 

Peitões da gorditcha turista no centro de Buenos Aires