sábado, 30 de março de 2013

"Ser amado é ser finalmente visto" Fabricio Carpinejar


eu sempre pensei sobre isso, mas, nunca consegui sintetizar de maneira tão clara.
 Ser visto com uma lupa dói... eu me sinto como se alguém enfiasse o dedo na minha carne aberta e encontrasse partes vermelhas e suculentas e outras em estado avançado de decadência... daí, bem no meio desse escrutínio amoroso, espalmasse meu coração faminto e assassino e, ainda assim, me admirasse e me quisesse ao seu lado.

quinta-feira, 28 de março de 2013

domingo, 17 de março de 2013

assim





GISELE DE SANTI - E EU 




Você querendo só canção e eu inventei um estilo
Você arrasou meu quarteirão e eu construindo um edifício
Amor, você judiou, e eu?
Amor, quem tropeçou fui eu
Você ficando só no muro e eu caminhando em círculos
Você é futuro que passou e eu vivendo de particípio
Amor, você brincou, e eu?
Amor, 'cê amargou meu eu


sábado, 16 de março de 2013

pequeno inventário de delicadezas diárias

delicadeza, assim como quase tudo, é artigo pessoal e raro. Eu queria muito ter uma visão além do alcance, dessas que não deixam escapar nem a menor das delicadezas do mundo. E hoje, entre obrigações eternas e a pintura quinzenal dos meus cabelos, fiquei extasiada (como sempre fico) quando a tinta sangrenta escorreu em jatos no tanque branco. Dra-ma-ti-ca-men-te respingando em tudo. É um acontecimento... De uma suavidade macabra. Nunca fica da cor que eu quero, mas, o suspense e a explosão vermelha na minha cara, já valem o dia.

sexta-feira, 15 de março de 2013

agora

atracada a uma heineken eu penso sobre todas as qualidades que não possuo. Sobretudo por não ter sido atenciosa demais, ou por não ter sido fofa demais, ou por não ter feito alguém feliz. Deve haver alguma atividade mais nobre do que fazer alguém feliz. Porque, se nem o próprio cidadão é capaz de tal façanha, porque eu seria?
É certo que as pessoas perdem tempos preciosos fazendo comparações, elegendo os melhores e os piores para que suas vidas miseráveis façam algum sentido e as pessoas as quais estejam associadas hoje em dia sejam melhores do que as do passado. Mas, pra que serve isso? Qual é a função? Estamos todos mortos. Facilitaria bastante tratarmos todo mundo com deferência e um pouco de empatia.
Não supro expectativas. Me interessa aquilo que acho estranho. Não luto por quem não me ama. Não dou segunda chance pra quem foge de mim. Simplesmente porque não me interessa. Não sei sambar e não curto moda de viola. Sou de ficar possuída pelo que amo, sou do vento e da histeria (grito de socorro contra minha própria repressão sexual). Amor pra mim tem que me manter assim...íntegra.

segunda-feira, 11 de março de 2013

tudo tem um sentido



Lead me Home - Jamie N. Commons

domingo, 10 de março de 2013

se eu pudesse voltar atrá...

eu não gostava de Caetano e agora eu gosto. Nem sempre entrava no mar, agora, entro até de roupa. Tinha medo de altura, agora consigo subir mais alto do que você possa imaginar. Era ciumenta, agora, deixo pra lá e cuido da minha vida. Era morena, agora, sou ruiva pra sempre. Era risonha, agora, sou econômica e aplico na bolsa. Era preocupada, agora, tento fazer o possível. Gostava de agradar, agora, me agrado. Queria um filho, agora, quero manter a minha liberdade. Sonhava com uma família e um parceiro no crime, agora, sonho com o mundo. Queria ter razão, agora, me contento com ser feliz...
Tem tanta coisa que não é mais, que fico pensando se já fui aquela versão fraquinha e desbotada do passado...porque sinceramente...não gosto daquela versão. Não me orgulho. Well, C'est la Vie!





Caetano - Abraçaço

sábado, 9 de março de 2013

Monalisa, a cínica

tem  coisas que  não servem mais para minha vida, tais como: gente mesquinha que conta as moedas  encostando-as nos olhos e conferindo cada tilintar na carteira, que cobra as gentilezas com juros e esconde comida só pra não dividir; gente que quer doutrinar e  finge que é "apenas" uma conversa; boy que se finge de santo, se vitimiza e demoniza a parceira como se ela fosse uma bruxa porque é incapaz de olhar às próprias limitações (esse tipo, pra mim, merece várias chifradas); programas hippies (não me convide por favor! Não tenho muitas ambições, nem frescuras, mas, ir para um lugar onde o ar seja rarefeito, a comida e a água quente, estejam a léguas de distância e onde cabelos e barbas mal cortados com pulserinhas de artesanato sejam o último grito da moda, definitivamente, não é pra mim); e principalmente,  gente que culpabiliza a tudo e a todos e se redime das próprias responsabilidades....Ahhhh vai faltar vida útil pra tanto item na lista.
Ryan Deus Gosling: elegância,talento e pecado, não são pra qualquer um

sexta-feira, 8 de março de 2013

8 de março

nunca pensei que ser mulher fosse ser poderosa, multiativa, fodona. Dessas maquiadas e bem vestidas que lutam com a celulite, malham preocupadas com a bunda e planejam peitos que custam o preço de uma viagem ao Caribe. Conseguem ser lindas, administrar filhos, boys, carreiras e mesmo com tudo isso, fazem tratamento de dente até o final.
Sofro pacas quando o assunto é expor meu corpo, porque minha relação com ele sempre foi estranha, conturbada... Algo como me sentir um hospedeiro em um lugar que não me pertence. E isso ficou ainda mais contundente, quando eu me separei e logo após, fui desprezada e trocada, numa história com um boy que eu  amava de verdade. Daí, tive impressão que  minhas questões não eram exatamente de gênero. Não sei o nome disso. Não saberia como classificá-las.
Nunca me dei bem com vestido e batom. E luto pra ser vaidosa. (Ainda não entendi porque luto).
O fato é que, o dia das mulheres deve ser lembrado até pra gente entender, que porra é ser mulher....
Percebo, que  não é pra qualquer um, talvez, nem pra mim.... Só atesto que é uma paulada tentar ser dona de si. Reconhecer-se um indivíduo livre. Eu por exemplo, tenho vocação pra ser só.
Honestamente,  não sei se essas observações tem a ver com gênero ou com manter traços humanos num mundo cada vez mais virtual e sem espontaneidade.

terça-feira, 5 de março de 2013

inabilidade social

na sexta passada, após uma reunião noturna de trabalho a qual eu jurava que ia ser difícil, saí aliviada e exausta pensando no sábado e no outro trampo que me esperava pela manhã. Quando duas amigas me convidaram pra comer e beber .....e esquecer.... sentei no boteco do tamanho do meu bolso e fui logo pedindo cerveja e comida, pra anestesiar a cabeça que não parava de pensar que eu podia ser rica. Bebi como se fosse cicuta, como se fosse o último dos venenos fabulosos desse mundo, esperando morrer linda nos braços de Morfeu. Chegou o sanduíche e o dividimos comedidas,  proletárias elegantes, pensando na conta  mais barata. Conversa quente sobre os boys das jovens companheiras de trabalho, quando de repente, um cara com traços orientais passa ventando na frente de nossa mesa, pede licença e ajoelha ao meu lado:
ele __ Oi! Meu nome é R. Eu estava te olhando faz um tempão. Te achei uma gata...Qual o seu nome?
Nesse momento as jovens começaram a rir maliciosas.
__ Oi!Meu nome é Simone. Obrigada. (sorriso mais que tímido querendo sair correndo)
ele__ O que você faz Simone?
__ Sou atriz e professora...
ele__ Uau...que interessante...
__ Onde você trabalha?
Expliquei onde trabalhava sem muitos detalhes, com medo dele ser o psicopata das facas Ginsu.
ele __ Me fala sobre como é ser artista...eu sou jornalista, funcionário público.
___ Ah... como artista eu me sinto a maior parte do tempo livre. Pronta pra ir embora. Meio do mundo...Cosmopolita, como eram denominados os atores gregos...eles eram tratados com muita deferência e não como estrangeiros. Gosto de ter essa ilusão...
ele__ Sério? E ser professora?
__Ah...é como ser funcionário público...estamos sempre nos submetendo a algo...a arte não se submete sabe?! Pra mim, o material artístico do bom, está no inconsciente....é livre por natureza...e trabalha com a nossa Sombra...tudo o que escondemos e nos torna vulneráveis...
ele___ (voz exasperada) Você é muito arrogante!
___ Eu?! Desculpa! Eu não quis ser arrogante.... Sério. Eu só acredito mesmo que, quando trabalhamos para uma empresa, "vestimos uma camisa" que às vezes nos impede de qualquer manifestação mais sutil que demonstre o que de fato somos, ou no que acreditamos...
ele__ Você ficou brava?!
__ Não! Só não queria ser mal interpretada...
ele__ Você ficou brava...
__Não.
Nessa hora ele tirou o cabelo do meu rosto como se fosse um velho conhecido e daí sim eu fiquei com muita raiva. Senti vontade de acertá-lo com um soco que durasse uns 10 minutos.
ele ___ Eu sou arrogante.
___ Quer dizer que você projetou sua arrogância em mim?!
ele___ Pode ser...
___ Gostei da honestidade. Quer dizer que você não liga para o que os outros pensam?
ele___ Ligo sim.
Gargalhadas minhas.
ele___ Eu te achei muito interessante... não esperava....você é bem mais interessante do que eu imaginava...e linda...
___ Ah....legal...valeu
ele___ Vamos ao cinema?
___Cinema?!
ele___ Ver ''Amour".
___ Porra..."Amour" ...errr...
ele___ Me dá seu número.
Dei o número.
ele___ Vou te ligar agora, mas, você é quem vai me ligar, se quiser, ir para esse cinema, ok?!
___ Ah...sim claro
Pagamos a conta e R. veio em minha direção pra se despedir. Seus amigos sorriram pra mim e deram tchau.
As meninas acharam o cara o máximo e me fizeram prometer que eu ligaria para ele. Respondi que talvez...quem sabe...
Não. Não liguei. Não. Não pretendo ligar.  Acho que realmente sou arrogante.  
                                                       

domingo, 3 de março de 2013

névoa fina

já faz algum tempo que minha t.v virou apoio para vaso. Ela já era bem velha, da época em que eu ainda era estudante e morava numa república.
Basta uma t.v pra eu começar a bocejar. Gosto de filme e alguns seriados, mas, sou de um período em que conteúdo de t.v aberta só era bom de madrugada. Agora, a maior parte, transita entre o lixo e o desnecessário. Como não tenho t.v à cabo, ela só faz falta porque me dava o sono que eu ando perdendo.
Mas, temos a internet com todo tipo de assunto. Daí, dando uma zapeada, deparei-me com os filmes do Ingmar Bergman, o queridinho dos hipsters, cineastas cults e atores metidos. Mesmo com  minha preguiça contumaz desse povo, me rendi aos encantos desse diretor fodástico.  "Gritos e Sussuros", "Morangos Silvestres" e "Cenas de um Casamento" são as pérolas que eu desfrutei, legendadas e disponíveis nesse mar cibernético.
Chapou a minha alma, como num soco certeiro. Fiquei tão mal de cabeça, que me confundi com seus personagens: calados, sombrios, cheios de dúvidas, solitários, entediados e abarrotados de segredos inconfessáveis. E foi bom, porque me senti fazendo parte de algo realmente humano e imperfeito. Nada de felicidades sépia, instantâneas e corrigidas, esfregadas na minha cara e implorando para serem reais.
Amei e espero profundamente que a "verdade" sobre as coisas, àquela que, em geral, instala-se embaixo dos tapetes, venha para ficar em minha vida.