sábado, 31 de agosto de 2013

vulnerabilidade

enquanto esperava a peça começar, inventei que era uma estátua para não ter que socializar nesses dias de misantropia. Mas, o perfume de um sabonete que eu nunca senti invadiu minhas narinas como o cheiro da carniça ao sol. De incômodo, transformou-se em pranzenteira visita. Bom saber que existem cheiros imprevisivelmente ordinários. Ao lado, um rapaz que aparentava 24 não parava de se mexer, reunindo toda a ansiedade juvenil em gestos e movimentos entrecortados. Era dele o cheiro de banho cuidadoso. Era dele a aflição de não saber o que fazer com o corpo. Olhava em  direções estilhaçadas  como quem procurava abrigo. Não encontrando, voltava aos movimentos estereotipados do início. A minha frieza do começo, deu lugar a uma compaixão estranha, dessas que dão vontade de acolher. Dessas que dão vontade de dizer: estou aqui e cuidarei de você. Eu que ando exausta pra cuidar de mim mesma. Desse ponto, imaginei a cabeça dele encontrando paz em meu pescoço. Seus dedos finos passando a repousar sobre minha mão, que delicadamente dedilhava sua palma ampla. Beijava sua fronte e dizia palavras doces do tipo: farei de tudo para que você se sinta pleno. Enfim, essa sucessão de ações clichês terminavam por acalmá-lo e deixá-lo seguro e belo... De repente, o texto da atriz interrompeu meu pensamento. Voltamos.

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