sexta-feira, 14 de setembro de 2012

célebre desconhecida

desde adolescente me espanto com a história de Dionísio. Nascido duas vezes e uma delas da coxa de Zeus, corre para não ser morto por Hera, esposa oficial do deus dos deuses, que quer matá-lo por ser filho de outra. O bastardo tem habilidade de transformar-se em tudo a sua volta e o faz para não morrer. Ou seja, travestir-se é uma questão de sobrevivência. Se for reconhecido, sua desdita está declarada. É assim que percebo a minha profissão. Sempre que fiz um personagem e não fui reconhecida por ninguém, me senti lisonjeada, como se tivesse sobrevivido a algo incomensurável. Como se tivesse defendido Dionísio de uma morte leviana. Por outro lado, quando não estou no palco por um tempo, tenho a sensação estranha de estar desaparecendo, como um rascunho desenhado ao contrário e em câmera lenta. Não me entenda mal. Não sou dessas atrizes que fazem rituais para o deus do teatro. Não participo de bacanais. Não fico pedindo bênçãos. Minhas deferências confundem-se com minhas ações em cena. Minhas defesas são genuínas. Ave Dionísio! Que São Genésio, protetor dos atores, não se esqueça de ti jamais!

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