terça-feira, 5 de junho de 2012

Suzana

nos 40 minutos esperando o ônibus para o meu quarto trabalho: o de "Atriz" e o qual só chego atrasada a contra-gosto, fiquei pensando que odeio ser comparada com o "malandro" com máscara de bonzinho que chega sempre atrasado ou não vai, e quase nunca deixa as questões às claras porque assim o quer e ainda tem um defensor fervoroso, o que, por conseguinte, me emputece e me faz pensar como as pessoas não sabem a diferença entre arcar com suas responsabilidades e dar o truque prá se dar bem se vitimizando. Não costumo enganar as pessoas. Chego na hora que digo que vou chegar. Mas, paciência, o desrespeito tornou-se lícito e ordinário e colocar todo mundo no mesmo saco, também. O fato é que hoje, só hoje, gostei de não chegar na hora.Foi por conta desse atraso que conheci uma mulher phodona em tempos de muita melancolia, pouco assunto e pouca fé no ser humano. Suzana, 46 anos, vinda da Bahia para cuidar da prima moribunda e louca, internada no HUB. Franca, seca, sorridente e cheia de fé no inefável. Assim mostrou-se Suzana. E a lua barriguda ao fundo, brilhando por nada. Só porque quer. Suzana é nome da bíblia, ela me explicou. O dela e das outras quatro irmãs. Suas quatro filhas também mantém a tradição. Rebeca, Bruna, Nicole e Samanta. Ela jurou que eram nomes bíblicos. Não questionei. Essa bíblia é mesmo uma cartola de mágico, pensei. Ela tem mais outros quatro filhos que estão no mundo, lutando para talvez buscá-la se caso "vencerem". Todos resultaram de 3 casamentos, sendo que o último foi o que ela amou e disse ter sido amada. Ele abandonou Suzana grávida alegando que não suportava mais a pobreza. Ela disse que ele não teve coragem de avisá-la ao vivo então deixou uma cartinha. Isso é amor. Os outros foram embora, segundo ela pelo mesmo motivo. Não aguentaram a pobreza extrema. Mas, ela ficou. Porque as mulheres sempre ficam. Seu pai morreu. Ela gostava dele então não quis contar detalhes. Não gosta de lembrar. De sua prima louca, contou que ela gostava de comer terra, lambia a poeira fina, esmagava paredes, roía tijolos. Disse que o rosto dela, antes, belo e enfeitado com olhos azuis estava todo carcomido pela doença e lembrava o filme do Frankstein. Ela tem medo desse filme. Disse que a morte da mulher é certa e que o governo ia ter que enterrá-la pois ela não tem condições. Se fosse uma filha, aí sim, ela faria o impossível. Achou que eu tivesse 18 anos e que eu merecia um homem de verdade que me desse um filho. Eu sorri e disse que tinha 36. Ela disse que eu era linda e desejou que eu me apaixonasse por um homem muito lindo que fosse louco por mim. Nos despedimos no ônibus cheias de amor e amizade. Saí chorando como quem se despede de alguém da própria família.

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