segunda-feira, 11 de julho de 2011

amnésia

A primeira vez que eu me preparei para perder um amor, antes de tudo acabar de fato, foi quando ele comia sua última refeição. Carne de panela, acho... Não me lembro ao certo porque me dói e talvez porque isso me cause repulsa a carne de panela. E a minha mãe faz uma inacreditável.
O último gosto de sua boca era aquele, misturado com sangue. Ele sangrava por dentro e o sangue apodrecia tão rápido que exalava por toda a cozinha. Eu chorava e apertava sua mão tão forte, mas, ele nem ligava. Comia e ria.
Eu não aproveitei meus últimos minutos com ele porque só o imaginava estirado em um caixão. Já tinha matado ele há muito tempo. Para facilitar. Era prático sofrer por antecipação. Agora vem você. Ando me preparando insistentemente para te perder. É um trabalho sem fim. Porque nada no meu corpo entende isso. E já faz um tempo razoável. Essa despedida que vem em ondas cansa tanto...

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