segunda-feira, 5 de maio de 2014

carne crua

discursos consistentes não me interessam faz tempo, pois me dão a ligeira impressão de que em sua maioria, são baseados em excelente bibliografia (além de uma boa alimentação e conta bancária) e pouca referência prática conectada com as dificuldades diárias de qualquer cidadão/ã.
 Um dos meus maiores medos na vida é me distanciar da "realidade" crua. Dessa do estudante que acorda 4 da manhã para frequentar uma escola menos pior; do rapaz que almoça bananas porque é mais barato; ou da garota de 15 anos que fugiu de casa para não ser mais molestada.
A vida é boa no meu quadrado, mas, isso não pode me fazer esquecer que sou também o homem que dorme ao relento e conversa sozinho envolto em seus trapos fétidos. Esse homem amparado apenas pelos braços do frio mortal do outono que eu tanto amo...
Os buracos que eu tropeço todos os dias  nessas calçadas quase inexistentes, são como chacoalhadas na alma, essa, que as vezes dorme em seu próprio umbigo. Não é o budismo, o taoísmo ou a meditação transcendental que me lembram que todos/as somos um/a e sim os alagamentos na rua e os banhos de leptospirose que não perdoam ninguém.
Essa vontade de nunca perder de vista o avesso das coisas reverbera para todas as áreas da minha vida. Assim sendo, um lado meu quer escorregar as mãos no amor e escavar com as unhas até chegar nas memórias mais sombrias, mais brutas e mais claras. Esse mesmo lado quer apenas o ponto sensível de tudo.


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