sexta-feira, 9 de maio de 2014

Morto não paga passagem

10:32 do dia 6 de maio desse ano. Asa sul na altura da 16, espero o baú pra rodô. Olho o céu. Respiro fundo. Um primeiro baú para. Não é o meu. Um homem forte, jovem, baixo, belo e negro, usa calça e camisetas pretas. No pé meias brancas gastas e sujas. Ele se joga por trás do ônibus. Intenciona não pagar. O motorista o expulsa. Ele é humilhado. Repete a cena com mais dois ônibus sem sucesso. Conversamos:
Eu- oi, toma esse dinheiro! Entre pela frente, por favor.
Ele - não. Obrigado, moça. Eu tenho dinheiro. Além do mais, morto não paga passagem.
Eu- como assim?
Ele- eu não quero gastar com o baú.
Eu- porque?
Ele- porque vou gastar com pedra...crack, sabe?
Eu- entendi...
Ele- se eu pegar seu dinheiro vou comprar mais pedra... Eu tô morto, moça. Morto não paga passagem.
Eu - obrigada pela honestidade.
Ele- de nada. Só não achei certo te enganar.
Eu- (faço a pergunta clichê com muito constrangimento) já pediu ajuda?!
Ele - acabei de sair de uma clínica...saí ontem doido pra fumar pedra...
Eu- puxa...que triste...
Ele- (com o olhar longe) muito triste.... Triste demais.
Ele continua sua jornada inglória. Sigo meu caminho pra asa norte.
Triste.

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