sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

menarca

estava brincando na rua e já vinha sentindo muita dor no ventre. Fatídicos 12 anos. O sangue veio no xixi entre uma parada e outra. A tinta espalhou-se feito aquarela no vaso e com ela, uma dor lancinante. Pareciam agulhas abrindo sistematicamente uma ferida no meu útero. Uma ferida que nunca mais ia sarar.
Minha mãe me obrigou a usar uma saia que eu odiava. Era branca com rosas minúsculas em tom rosa bebê e sobre a calcinha, um absorvente que mais parecia um tijolo macio.
Meu modo de andar denunciava o novo estado: uma-garota-mutante-mulher-sofredora.
Seria aquela sensação dolorosa e desfavorável, a transformação em mulher que eu tanto tinha almejado? Era só nisso que eu pensava. Além de ter que depilar os pelos com cera quente feito a lava dos infernos profundos.
A dor não parava com nenhum remédio. Eu só queria morrer.
Ficou cravado: teria que sentir aquilo todos os meses da minha vida a partir daquele instante.

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